segunda-feira, 21 de abril de 2008

Vale do Paraíba


Fazia muito tempo que não ia ao interior, e tive as mesmas sensações de sempre. Cheiro de tempero familiar cozinhando em panela de ferro no forno a lenha, gosto de infância, quando corria de calcinha e pés descalços para estourar bexiga com água, que inclusive me rendeu uma cicatriz na testa, devido a um tombo.
Dessa vez, outras crianças brincavam, filhos dos filhos, algumas brincadeiras se repetiam, agora com o "plus" da internet...
A janela lateral, da entrada do casarão, poderia me causar sérios problemas se resolvesse se abrir, e contar quantas vezes a utilizei como porta principal de minhas saídas escondidas para bailinhos e afins. Para cada pedacinho da cidade, devo ter uma história pra contar. No interior, alguns lugares e pessoas não mudam, e isso ao mesmo tempo que me causa horror, me provoca certo alívio, porque quando eu me perder, tenho a impressão que vai ser para lá que vou correr, será meu ponto de partida na busca do que ficou perdido.
Lembranças de infância, nostalgia e a constatação de que com descendentes de italianos, festa sem brigas são quase inexistentes. E que, nesses momentos, eu quase sempre estou em outra dimensão... rs... Em meio a calorosas discussões tem sempre um que solta...
- Ué, cadê a Catarina?
- (Catarina, ao longe) Oi! Alguém me chamou?
- Lá vem ela, toda zen. Você tem certeza que é dessa família mesmo?
E mais uma vez me sinto estrangeira. Mas agora eu gosto desse não pertencer pertencendo, desse olhar de águia. Sou muito mais compreensiva com eles e comigo.
É... família... muita fofoca, bagunça, brigas... e entre uma coisa e outra, alguma sabedoria.

Saudade da minha vó Nina.

4 comentários:

Unknown disse...

Olá Lélia,
Gostei muito da descrição que fez sobre o interior. Eu não tenho familiares distantes, mas meu marido sim e, quando vamos para lá sinto praticamente as mesmas sensações que descreveu...Lá parece que o dia tem 48h, demora tanto a passar, tudo é tão tranquilo. Até parece que estou entre os meus familiares, e como você disse há brigas, fofocas e outras coisas mais, porém acho que a aprendemos muito em família...ela não nos traz conhecimentos teorizado, sistematizados, contudo há uma troca de experiências de vida muito grande e, para quem é esperto serve para muita coisa.
PS: Gostei muito do seu blog e, gostaria que soubesse que sou aluna do Profº Jarbas do 4º ano de Pedagogia. Portanto, também estou criando um blog, assim que tiver pronto envio-lhe o endereço, ficarei feliz se aparecer por lá.

Lélia Campos disse...

Seja bem vinda Elaine, apareça sempre. Fico aguardando seu blog, para poder visitá-la também.

Anônimo disse...

Saudações Lélia,
Meu nome é Lenice, sou aluna do 4apgn, do professor Jarbas, e como interiorana que sou, me identifiquei logo com suas memórias, principalmente com a panela de ferro, pois sou do interior de Minas (logo ali pertin de Guaxupé). O mais gostoso é sentir esse cheiro de tempero familiar.
Embora eu conviva com as maravilhas da Internet e toda a tecnologia, quando chego na casa da dona Chiquinha (minha avó materna) tudo é como antes, só não existe mais o monjolo. Lá não há energia elétrica nem tv; mas dormir com o barulho da bica d’água, beber o leite ordenhado na hora, ouvir o cantar dos grilos é uma terapia das melhores.
É sempre bom encontrar pessoas que ainda prezam essa cultura.

Alain disse...

Só quem tem vida interiorana exporádica sabe o valor dessas diferenças.