quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A menina e o viajante

Era uma vez uma menina que achava que era mulher...
Uma frágil menina que teimava em querer ser a Mulher Maravilha. Toda manhã ela se fantasiava, sem nunca esquecer o elemento principal, a máscara.
Passou muitos anos apegada a essa ilusão, todos que a conheciam desde pequena, já não sabiam mais quem ela era realmente, poucos enxergavam o que havia por trás de toda ornamentação. Mal sabia ela que sua melhor parte estava escondida, sufocada sob brilhos superficiais e pompas envelhecidas.
Os anos foram passando e a frágil menina estava quase morrendo asfixiada, quando um viajante apareceu, com seu olhar doce e curioso, penetrou as frestas que ainda existiam e a salvou. Delicadamente retirou sua máscara e a beijou.
Passaram algum tempo juntos, ele a ajudou a florescer, de menina passou a mulher. Uma mulher segura, sensível, inteligente e apaixonada. Foram muito felizes, para ela não existia ninguém melhor no mundo do que ele, era o homem de sua vida.
Acontece que ele não tinha pretenção de ficar tanto tempo, estava só de passagem quando a encontrou, fez o que pode por ela, mas sentia falta de algo que nem mesmo ele sabia o que era, foi começando a ficar triste, melancólico, e a menina que agora era mulher não conseguia entender nem conceber tanta tristeza em seu amado.
Esse foi o começo do fim, o viajante foi mergulhando cada vez mais em sua melancolia, para tentar entender a causa, e ela sem perceber foi se afastando dele, por sua incapacidade de se colocar no lugar do outro. Irônico, para alguém que passou tanto tempo sendo "outras pessoas".
Foi quando ele resolveu partir para continuar sua viagem em busca de si. Ela enlouqueceu, não passava por sua cabeça viver um dia sequer longe de seu salvador, não lhe parecia natural, afinal, ele era o homem da sua vida.
O que ela não sabia, ou não queria admitir, é que, infelizmente, ela não era a mulher da vida dele.
Precisavam continuar, o viajante sabia como, só de pensar em colocar os pés na estrada novamente seu olhar doce e curioso voltou a brilhar. Já a menina, estava perdida, não sabia se teria forças para continuar sem ele. Resolveu segui-lo, para onde quer que ele fosse.
Isso óbviamente acabou em tragédia, muitas pessoas passaram pelo caminho do viajante, ele queria parar um pouco para conhecê-las, para aprender com elas, mas havia uma sombra o seguindo o tempo todo, não se sentia confortável em parte alguma. Por isso parou e sem querer ser indelicado, pediu a ela que seguisse em outra trilha.
-- Não!!! - disse ela - Você é meu!!! E preciso cuidar do que é meu, não acha?
Ele, com lágrimas nos olhos e um misto de alegria e medo, como quem descobre uma maneira de ser livre, falou:
-- Já não sou mais.
Correu para o penhasco a sua frente e se jogou.
Nunca mais se teve notícias da menina que virou mulher.

2 comentários:

Fermina Daza disse...

IMPRESSIONADA!
É assim que estou após ler esse conto.
NUNCA li nada tão bom quanto ISSO AQUI em um blog. NUNCA tive a oportunidade de conhecer o autor, e se bobiar, nem de viver no mesmo período que ele.

Você estava iluminada ou erradiando sua própria luz, ou os dois juntos...não sei, estou confusa...

SENSACIONAL!

Salvei aqui comigo com o nome da autora e uma observação bem grande ao lado: Lélia Catarina, minha amiga dessa e de outras vidas.

Eu te amo por tudo que vc é. Vc é o que produz e tudo que vem de vc é assim TÃO MARAVILHOSO!

Feliz daquele que te tiver sempre por perto.

Lélia Campos disse...

Eu te quero sempre perto, obrigada minha linda!!!