Tenho poucas lembranças da minha infância, mas como acontece com todos nós, as vezes um cheiro, uma imagem, um som me transporta para aqueles longínquos tempos, e mergulho, por alguns segundos, nessas lembranças, ora inspiradoras, ora dolorosas, mas sempre reveladoras. Lembranças que nos fazem perceber quão próximo ou quão distante estamos de nossa essência (normalmente distantes, não?). No entanto, é um puxão de orelha tão sutil (daqueles que a gente torce pra levar porque sabe que depois virá o afago), que é preciso ficar alerta quando algo desse tipo acontece, principalmente com alguém tão desligadinha como eu...
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Tudo isso pra dizer que me lembrei de um pensamento de infância, eu devia ser bem novinha: Eu achava que era filha de gigantes, meus pais eram gigantes, como todos os adultos e que a distância entre nós só iria aumentar.
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Enganei-me, essa distância só diminuiu, em todos os sentidos. Mas meus pais continuam sendo gigantes pra mim, pela dedicação, coragem e luta incansável. Trancos, barrancos, tropeços, e eles continuam firmes, por perto, pra mim. Perfeitos dentro de suas imperfeições (que eles não escondem). Gigantes, meus gigantes, amados e algumas vezes temidos gigantes. Amo, respeito e agradeço sempre.
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(Imagem: Escultura hiper-realista do australiano Ron Mueck)