É tão difícil entender o outro...
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“atrás de cada palavra tento desesperada encontrar um sentido, um código, uma senha qualquer que me permita esperar por um atalho onde não desvies tão súbito os olhos, onde teu dedo não roce tão passageiro meu braço, onde te detenhas mais demorado sobre isso que sou e penses quem sabe que se aceito tuas tramas, e vomitas sobre mim, depois puxas a descarga e te vais, me deixando repleto dos restos amargos que não digeriste, mas mesmo assim penses que poderia aceitar também meus jogos, esses que não suponho, ah detritos, mas tudo isso é inútil e bem sei de como tenho tentado me alimentar desta casca suja que chamamos com fome de pequenas-esperanças...”
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e mais...
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"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calada, e assim submissa, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."
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Fragmento do conto À Beira do Mar Aberto, de Caio Fernando Abreu.
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Eu não quero me sentir assim, sempre que eu me apaixonar... prefiro um mar rodeado de ilhas, em que eu tenha a companhia, ao menos, dos habitantes marinhos da região (exceto a dos tubarões, moréias e barracudas)!!!