quinta-feira, 23 de julho de 2009

A minha aparente indiferença


Quero esclarecer um ponto importante da minha personalidade.
Não sou indiferente às coisas que acontecem comigo. Parece óbvio, eu sei, mas muitas vezes o que parece evidente é algo que não refletimos suficientemente a respeito, e que pode nos surpreender se não o rotularmos precipitadamente.
Não sei por que as pessoas me acham equilibrada, sensata e às vezes até indiferente. E estou aqui pra declarar a minha inabilidade de expor minhas emoções da forma como a maioria das pessoas as expõe. Isso não significa que eu não sinta o mesmo que elas sentem.
Eu espero aquela ligação ao lado do telefone, mas quando ele toca, eu não sei como agir e nem o que dizer.
Eu quero dizer que amo, mas as palavras não saem, tenho problemas com demonstrações melosas de afeto.
Eu sinto saudade, quero te ver, mas tenho medo de parecer a chata cobradora, e com isso, faço o gênero moderno, “relax”, “cada um na sua”. Esclarecendo, PURA FACHADA.
Eu sonho com o dia do meu casamento, mas todo mundo acha que eu encaro minha solteirice numa boa.
Minha garganta quase fecha segurando o choro quando vejo uma mulher grávida ou uma família aparentemente feliz reunida, mas minha cara de paisagem impede que os que estão a minha volta notem esse “auto-estrangulamento”.
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Tenho 31 anos, 05 meses, 15 dias e aproximadamente 2 horas de vida. O tempo não dá trégua, e eu não posso e nem quero ser indiferente a isso. Meus olhos vêem, meu cérebro registra e todos os meus outros sentidos sentem. Desculpem se não consigo demonstrar de forma clara e exata a dor e o amor que carrego e sou.

(Imagem: Obra "Figuras" de Pablo Picasso)

domingo, 12 de julho de 2009

Abismo


"É mais fácil cultuar os mortos que os vivos
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Mais fácil viver de sombras que de sóis
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É mais fácil mimeografar o passado que imprimir o futuro...
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Não quero ser triste
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Como o poeta que envelhece
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Lendo Maiakóvski na loja de conveniência
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Não quero ser alegre
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Como o cão que sai a passear
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Com o seu dono alegre sob o sol de domingo...
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Nem quero ser estanque
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Como quem constrói estradas e não anda
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Quero no escuro.

Como um cego tatear estrelas distraídas..."
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música "Minha Casa" de Zeca Baleiro
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Desperdiço tempo demais alimentando sonhos inviáveis
Construindo relações unilaterais
Injetando energia onde ela não pode circular
Ignorando sábios conselhos íntimos
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Mas eu não consigo conter esse impulso que me leva sem querer ao abismo
Confesso: eu adoro o vento que sopra por lá... rs...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ela e o mar

Ela acordou com vontade de ver o mar...
Tinha muitos afazeres: trabalho, estudo, academia, filhos, marido... mas o mar não podia esperar. Não conseguia entender por que, mas essa atração era maior do que qualquer coisa.
Levantou, tomou um banho, pegou uma maça que encontrou perdida na fruteira e saiu. Tirou o carro da garagem e foi... tentou resistir e virar a direita rumo ao escritório, mas não conseguiu. Resolveu parar de lutar contra e foi ver o que o mar tanto queria com ela.
A neblina estava intensa durante quase toda a serra, impossibilitando a vista magnífica do oceano do alto da montanha.
Cerca de três horas depois a revelação, o mar havia sumido. Não estava onde deveria estar, e se não estava mais lá, obviamente muitas cidades poderiam estar encobertas neste exato momento. Um verdadeiro desastre, mais um, em meio às pequenas tragédias cotidianas que vivemos em silêncio. O mar teria fugido? Se escondido? O que estava acontecendo?
A cidade encontrava-se deserta, foi até uma padaria para obter alguma notícia, mas não havia ninguém para atendê-la. Resolveu ligar pra casa com a esperança de que alguém a pudesse tirar desse estado de estupefação e impotência. Nada, mudo, desligado ou sem bateria, o fato é que naquele momento ela era a única testemunha de algo que ela nem sabia ao certo se era real.
E se não era real, o que de real ela poderia tirar dessa catástrofe inventada? E se era real, pra que perder tempo refletindo sobre a autenticidade dos fatos, quando milhares de pessoas poderiam estar morrendo afogadas?
Ação, uma palavra tão pequena e tão difícil de ser experimentada!
Ao mesmo tempo em que tinha vontade de correr na direção onde deveria estar o mar até conseguir encontra-lo, seus pés fincaram no chão pelo instinto de sobrevivência que os habitava.
O que um simples olhar pode causar em nosso espírito e como a ausência dele pode nos ferir. Mais do que o mar, ela sentia falta de alguém pra compartilhar aquilo que ela nem sabia descrever. Um olhar, e talvez ela se sentisse mais confiante pra agir, talvez.
O dia poderia ter transcorrido normalmente se ela não resolvesse se meter onde não devia. Poderia ser um belo dia de sol a beira mar, se o mar não tivesse sumido. Poderia ser um dia banal, se ela não ouvisse seus instintos.
Ela correu, correu na direção oposta ao mar, pois não era o mar que deveria ser salvo. Precisava salvar-se, e precisava do outro para ser salva. Não havia sentido existir sozinha. Então correu, correu em busca do que ainda estava vivo, correu com sua esperança desesperada, correu, correndo, corre, corre, corre...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Prêmio


Mais do que talento, é preciso sensibilidade para ser um bom ator, e meus queridos alunos/atores tem os dois. Receberam o prêmio de melhor espetáculo pelo júri popular no Festival de Curtas de Teatro de Osasco (FECT) com a peça "Entre Andares" que dirigi.
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Parabéns a todos nós, mas principalmente a eles pelo empenho, coragem, entrega e pela confiança em si e no grupo. Prêmio super merecido!!!