sexta-feira, 27 de março de 2009

mar aberto


É tão difícil entender o outro...
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“atrás de cada palavra tento desesperada encontrar um sentido, um código, uma senha qualquer que me permita esperar por um atalho onde não desvies tão súbito os olhos, onde teu dedo não roce tão passageiro meu braço, onde te detenhas mais demorado sobre isso que sou e penses quem sabe que se aceito tuas tramas, e vomitas sobre mim, depois puxas a descarga e te vais, me deixando repleto dos restos amargos que não digeriste, mas mesmo assim penses que poderia aceitar também meus jogos, esses que não suponho, ah detritos, mas tudo isso é inútil e bem sei de como tenho tentado me alimentar desta casca suja que chamamos com fome de pequenas-esperanças...”
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e mais...
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"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calada, e assim submissa, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."
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Fragmento do conto À Beira do Mar Aberto, de Caio Fernando Abreu.
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Eu não quero me sentir assim, sempre que eu me apaixonar... prefiro um mar rodeado de ilhas, em que eu tenha a companhia, ao menos, dos habitantes marinhos da região (exceto a dos tubarões, moréias e barracudas)!!!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Afeto

(Jornal da USJT, março/2009)

O senhor Aurelio Buarque de Holanda Ferreira diz:

Afetividade é o conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza. (FERREIRA, 2001, p. 20)
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Fernanda, Lélia e Letícia completam:
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“Pode-se dizer, em outras palavras, no que diz respeito à afetividade, que um indivíduo pode ser afetado ou cometer o ato de afetar; ou seja, como seres sociais todos estão sujeitos, o tempo inteiro, a afetividade. Afetar, portanto, nada mais é que atingir; tratando-se de uma ação que acarreta conseqüências.
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Desde pequenos, na educação do ser humano, ouve-se falar da superioridade de pensar com a razão, como se o fator emocional se distanciasse significantemente das conquistas que, dizem os amantes da razão, são de caráter material. É necessário aqui rever alguns valores. As maiores conquistas da humanidade foram aquelas que, sem dúvida, envolveram a racionalidade humana, mas não se pode separar a motivação e os sentimentos de superação, busca, determinação, curiosidade, e até mesmo a própria capacidade de sonhar dos processos que desencadearam as grandes descobertas da humanidade. Não se deseja algo que não afeta o lado emocional, que não desperta vontade demasiada em descobrir, em ter, em ser. A necessidade, muitas vezes, impulsiona o indivíduo a buscar conhecimento, porém o aprendizado da necessidade vinda de fora, como algo externo, não é o mesmo da necessidade vinda de dentro do sujeito, que ambiciona sempre insatisfeito pelo que o afeta. Rosa (2003, p. 24) explica que “alimentamo-nos da tese segundo o qual o elemento distintivo do homem é a racionalidade. Que me perdoem os fiéis mais ortodoxos da razão, mas a originalidade do homem está no seu poder de sonhar”.
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Com o intuito de desenvolver a busca autônoma do educando pelo conhecimento é indispensável propiciar não só meios materiais para despertar seu interesse como também desencadear seus mecanismos internos. Como desencadeá-los? A resposta está na afetividade. Afetar visando à aproximação do aluno ao professor, possibilitando a eficiência no aprendizado, pois todos os sentidos do estudante estarão voltados para a aquisição de conhecimentos.” Trechos do artigo Afetividade para a formação integral do educando escrito por Fernanda, Letícia e Lélia
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Eu sinceramente acredito nisso, e experencio diariamente o ato de afetar, não só dentro da sala de aula, porque não faria sentindo, mas também em minhas relações “extra-classe”. Sou educadora em tempo integral, sou ser humano em tempo integral e não posso (e nem quero) ignorar o afeto em minha maneira de estar, ser e me relacionar com o mundo.

domingo, 15 de março de 2009

Contando História





Minha primeira experiência como contadora de histórias foi maravilhosa!!! Aconteceu neste sábado, no lançamento do livro infantil "O coelhinho distraído" de Inez Donati, uma querida amiga e também estreante, como autora de livros infantis.
Assim que eu conseguir as outras fotos, posto no meu fotoblog Atobá, cujo o endereço está no canto inferior direito deste blog.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sangue


Em algumas veias não corre sangue, isso é fato.
Corre diesel, gasolina, mas sangue com certeza não há.
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Lembrei-me de uma frase do espetáculo Oito (do qual participei há uns dois ou três anos), dita pelo meu querido Victor Bittow, que me causava sempre a sensação de um soco na boca do estômago.
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"O coração é um músculo involuntário, se não bombear sangue, ele explode, apodrece, vira um bife."
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Meu sangue esquenta(chega a ferver, as vezes) quando vejo corações sendo transformados em bifes, por excesso de praticidade, disciplina, medo infundado, desconfiança, e falta de carinho com o próprio orgão. Eu tento doar sangue, mas parece que esses organismos não aceitam mais esse tipo de substância.
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Só me resta lamentar e seguir em frente. Ou será que existe alguma outra solução que eu não saiba?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Vida


Por que o mundo gira tão rápido? As pessoas mudam tanto de idéia? E o amor, essencial, é encarado como alegoria, por alguns?
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Tempos diferentes, mentes burocráticas, corações inquietos, sapatos que apertam, cadáveres "vivos", jogos intermináveis...
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Ela é mesmo cheia de surpresas!!!
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(Imagem: Edvard Munch - "Separação")

domingo, 1 de março de 2009

Subentendido...


O ano está começando agora, o carnaval se foi, e foi tão bom, mas vamos voltar à realidade.
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Sabe, quando... foi tão... uma sensação de... e precisou... mas a verdade é que... e nada se compara ao... estou deveras... mesmo sabendo... não me diga que... o momento exato... é... sabemos... entre nós... aconteceu, e acontece sempre... apesar de... quero mais... e não me surpreende que... necessito de... mas pode... SIM!
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Socorro!!! Lacunas, lacunas, lacunas... paixão por reticências...
Existiria uma versão sem lacunas de Lélia? Improvável, pra não dizer impossível.
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E vamos continuar a pular, juntar, afastar, criar, os vãos que nos forem necessários!!!
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(Imagem do espetáculo Oito, fotografia de Silvia Sanches)