sexta-feira, 2 de maio de 2008

"O gosto do vivo."


Enfim, terminei o livro “A paixão segundo G.H.”, de Clarice Lispector e como doeu!! Esse livro me revirou, tanto no aspecto físico quanto no moral, espiritual, existencial... Senti-me tão a flor da pele, e muito incomodada, na maior parte do livro. Não sei se demorei pra ler, porque realmente tinha muitos trabalhos e livros da faculdade pra terminar, ou se usei tudo isso como desculpa pra não terminar o livro, que ao mesmo tempo me fascinava e eu desejava que não tivesse fim, como eu queria me livrar do desconforto que era me reconhecer, na dor, na desistência, no medo de errar, na solidão.
Eu desejava uma solução, uma organização, mas pressentia, a cada virada de página, que o que eu iria encontrar era de uma outra natureza, “A coisa é tão delicada que eu me espanto de que ela chegue a ser visível.”
Não é de outra natureza, mas é sutil, é “não humana” de tão humana que é. É antes de tudo, amor. Sobrevivi, e recomendo que façam essa jornada interior, conduzidos por Clarice, ofereçam suas mãos e confiem.

“Entendi que, botando na minha boca a massa da barata, eu não estava me despojando como os santos se despojam, mas estava de novo querendo o acréscimo. O acréscimo é mais fácil de amar.
E agora não estou tomando tua mão para mim. Sou eu quem está te dando a mão.
Agora preciso de tua mão, não para que eu não tenha medo, mas para que tu não tenhas medo. Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão. Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor. Como eu, não terás medo de agregar-te à extrema doçura enérgica do Deus. Solidão é ter apenas o destino humano.E solidão é não precisar. Não precisar deixa o homem muito só, todo só.
(...)
Ah, meu amor, não tenhas medo da carência: ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça – que se chama paixão.”

Mais uma coisa: “E não me esquecer, ao começar o trabalho, de me preparar para errar.”

(Imagem: pintura de Auguste Renoir - Banhista sentada)

PS: Obrigada querido René, pela indicação e insistência para que eu lesse o livro, entrará em minha lista de favoritos, com certeza.

5 comentários:

Leco Vilela disse...

Foi da mesma fonte que eu li esse livro, ganhei do René no fim do ano passado. É qaundo eu li foi algo estranho. eu estava na rodoviária do tiête parado numa mesa tomando café da manhã pronto pra ir para BH e lendo o livro de repente para na minha mesa um passaro e começa a comer as migalhas da torta que eu comia devagar, olhie pro lado uma menina sentou no piano do café e começou a tocar uma música que não passava de um aquecimento... mudanças concretas não?...gostei desse livro, preciso ler de novo.

René Piazentin disse...

... e então não sei o que digo.
... e então eu adoro.

Rebeca Ukstin disse...

“E não me esquecer, ao começar o trabalho, de me preparar para errar.”
gosto disso!
coincidência,sou atriz tb...e educadora.
to me aventurando na gastronomia,descobri minha vida.
sempre q puder me visite.
bjos e prazer!
rebeca

Anônimo disse...

O blog tá incrível e a dona dele é maravilhosa! O que eu não daria por esse seu olhar pra mim! Não costumo ser tão direto, mas não me contive, rs...
Parabéns! Virei sempre.

Unknown disse...

Amiga, amei seus comentários sobre o livro da Clarice, você é foda... escreve de um jeito que nos leva a entender o ques está sentindo.
Ahhh e outra coisa: a frase "E não me esquecer, ao começar o trabalho, de me preparar para errar" achei d+.
Parabéns! Amei.
Um beijão!!!