terça-feira, 29 de abril de 2008

Sorriso de vó, da minha vó


Fiz esse exercício, há uns três anos, para a construção da dramaturgia do espetáculo “Oito”, o exercício foi proposto por Juliana Jardim, diretora da peça juntamente com Antonio Januzelli, chame-se escrita total (mas deve ter outros nomes), o tema foi a infância. Durante alguns minutos escreve-se sem parar sobre determinado assunto sem se preocupar com pontuações, ortografia ou concordâncias, somente com o tema proposto, inclusive os assuntos podem mudar de uma hora pra outra sem aviso prévio, quem manda na “caneta” é o pensamento que toma a frente, acaba sendo um relato de sensações.
Resolvi aplicá-lo, como resgate de memória, com alguns alunos para falar de Poética Pessoal, e saíram belos textos, o próximo passo é transformar esse resgate de memória em arte, sendo através da poesia, das artes visuais, ou qualquer outra manifestação artística. Recomendo aos colegas educadores da área de Artes experimentarem o exercício com seus alunos.
E vamos a minha infância então!!
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De manhã, a espera de o meu avô sair para os seus afazeres diários. Melhor hora do dia, das férias na casa da vó Nina. Meu avô sai, eu, minhas irmãs e a Lú corremos pro quarto da vó Nina e escalamos a camona. Minha vó linda, como sempre, as vezes dormindo, mas sempre sorrindo, sempre acolhendo. Adorava ouvir suas histórias, de santos, romances, sereias. No quarto dela tinha o Buda, um crucifixo gigante pendurado na parede, no altar Cosme e Damião. Minha vó foi a pessoa mais generosa e maravilhosa que conheci na vida. Lembro-me que ficávamos horas naquela camona, nós a pintávamos, a penteávamos. Eu gostava de gritar no ouvido dela, ela era surda. Meu pai dizia que era só falar de frente pra ela que ela lia os nossos lábios. Mas eu não achava justo. De domingo todo mundo ia almoçar no casarão, macarronada, falavam alto, faziam muito barulho. E por que eu não podia gritar no ouvido da minha própria vó? Eu gritava. E ela sorria, sempre. E dançava, cantava. Quando alguém adoecia ela benzia, sempre vinha gente da vila pra ela benzer. Rezava muito também. Acho que se hoje acredito em Deus, foi por sentir a fé de minha vó. Lembro-me de um dia que estávamos no casarão, chovia muito, relâmpagos e trovões me faziam tremer de medo, olhei pra minha vó, ela estava sentada na cozinha, sorrindo, e eu pensei, “nessas horas até queria ser surda também, deve ser bom, minha vó tá até rindo, nem sente medo de trovão”. Gostávamos de pentear seus lisos e longos cabelos brancos. Por falar em cabelo, minha irmã Nina uma vez pegou a Barbie da Kika, minha outra irmã, e disse que ia mudar o visual dela. A Nina adorava brincar de cabeleireira, e cortou o cabelo da Barbie chanel, além de arrepiar a franja. Já comigo ela não cortou o cabelo da minha boneca, cortou o meu mesmo. Minha mãe chegou e levou a gente no cabeleireiro de verdade, mandou que cortasse o cabelo das três “a lá homem”, coitada da Kika que entrou de gaiato no navio. Mas voltando a minha vó, eu gostava quando ela fazia o almoço, pois deixava eu mexer a panela do arroz. E o sonho da vó Nina, depois que ela morreu não teve mais sonho, ela falava que não tinha segredo, que era fácil, mas tinha sim, aquele sonho tinha gosto de sonho de vó. Já meu avô era outra coisa, o carinho dele era beliscão. A única pessoa que enfrentava ele era a Maria, empregada da casa desde que minha mãe era pequena, era uma negra, gorda, bunda arrebitada, peito grande e careca no cocuruto da cabeça. Ela defendia minha vó, defendia a gente e meu avô não ousava enfrentar ela não. No fundo era ela quem mandava na casa. Fazia uma batata frita e um mingau especiais. Mas voltando ao meu avô, militar reformado, combateu na 2ª guerra na Itália, acho que quando ele ficou doente passei a enxergar mais humanidade naquele ser amargo, bruto, áspero. Mas a doença corroeu ele muito. Acho que todo mundo. Lembro das etapas, quando eu ia visitá-lo. No começo ele ficou violento, não gostava que homem entrasse na casa, batia, xingava. Depois ele começou a defecar pela casa, era nojento, mas não tinha como prendê-lo, claro, então restava suportar o cheiro, que por mais que se limpasse, algum resíduo sempre ficava pra trás. Depois veio a fase que ele foi parando de andar, de falar, até de respirar. Seu corpo foi ficando duro, as feridas não cicatrizavam, mas o carinho da minha tia e da minha prima era incansável, elas limpavam, cuidavam, faziam curativos, conversavam com ele. Lembro o dia de sua morte. Estávamos na sala, e minha tia, que até então não se conformava que ele precisava morrer, foi até ele e falou chorando algo assim “Vai pai, pode ir, a gente vai ficar bem.” Passou uns minutos e ele morreu. Não me lembro do rosto do meu avô morto, mas lembro do meu tio tentando desdobrar o joelho dele, sem sucesso, tiveram que fazer uma montanha de flores no caixão, pra disfarçar o joelho que não desdobrava. Já o rosto da minha vó, que morreu bem antes, eu lembro perfeitamente, estava tranqüilo, ela estava linda e sorrindo como sempre.

sábado, 26 de abril de 2008

Samba ao nascer-do-sol


Acordar as 5:30 para ir a licenciatura do outro lado da cidade pode ter suas vantagens...
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"o meu samba vai curar teu abandono
meu samba vai te acordar do sono
meu samba não quer ver você tão triste
meu samba vai curar a dor que existe"
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(Rodrigo Bittencourt) do CD "Samba Meu", de Maria Rita.
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O nascer-do-sol estava irresistível, raridade nesta cidade cinza, pena que não pude contemplá-lo como gostaria, tinha que ir para aula. Mas foi uma experiência interessante assistí-lo, e ainda ter como trilha sonora o CD da Maria Rita, "Samba Meu", que é incrível!! Senti uma alegria tão grande, parecida com amor, e que permeou todo o meu dia. Um sensação de fazer parte, de ser especial, como se só eu tivesse sido escolhida para ver aquele espetáculo, ao mesmo tempo, como se a Natureza, quase sem querer, estivesse me dizendo quão pequenina sou, e sou, diante de tamanha grandeza.
E novamente penso na questão do tempo, se eu tivesse saído minutos antes ou depois, meu dia teria sido bem diferente, não necessariamente pior, só, diferente. E constato que preciso "respirar" em minha ansiedade, o sol não vai nascer mais rápido porque eu preciso ir para a faculdade.
Quando eu era pequena sempre ficava intrigada de nunca conseguir ver o momento exato que o dia clareava ou que a noite chegava, eu achava que Deus me escondia alguma coisa, só quando eu estava dormindo, ou de olhos fechados, é que Ele fazia essa mágica.
Agora cresci, apaixonada pelas coisas simples da vida, pequenos e belos espetáculos, gratuitos e aberto ao público, mas que nem sempre consigo assistir. Hoje consegui, pelo menos o primeiro ato, e foi um dia bom...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Antes do pôr-do-sol


Hoje senti muita vontade de rever esse filme, não sei bem porque, quer dizer, talvez eu tenha um idéia, mas não vem ao caso. O fato é que novamente foi um experiência enriquecedora.
Este filme é a sequência de "Antes do Amanhecer". Celine e Jesse se reencontram depois de 9 anos, em Paris. Os dois jovens idealistas e românticos se tornaram melancólicos e pessimistas. Os últimos 10 ou 15 minutos do filme são perturbadores. E é tudo tão simples, duas pessoas conversando, mas com muita profundidade e intensidade, um diálogo incrivelmente bem construído, é inteligente e inquietante, dá a impressão de uma conversa quase cotidiana, sem ser banal, tudo é preenchido, de história, de desencontros, de fracassos e de desilusões.

"Celine - Achei melhor parar de romancear as coisas. Eu vivia sofrendo o tempo todo. Tenho muitos sonhos que não tem nada a ver com minha vida afetiva... Pra mim, realidade e amor são contraditórios. "

Os personagens questionam o romantismo, mas no fim, permanecem românticos.

"Jesse - Agora, percebi. Quer saber porque escrevi esse livro imbecil? Para poder lhe perguntar 'Por onde você andou?' Acho que escrevi para tentar encontrar você."

Pois é, por mais que eu me esforce para ser prática, por mais que eu tente não acreditar em principe encantado, por mais que eu trabalhe minha mente e meu coração para a possibilidade de ser feliz sozinha... Não a nada melhor do que estar apaixonada! Acho que, no fundo, todos nós gostaríamos de ser encontrados.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Um convite


Farei uma Leitura Dramática na sexta-feira, dia 25/04/08
LocaL : Capote Valente,109
Horário: 9:30
Não paga nada e depois tem Happy Drinks!!
O texto é de Michelle Ferreira, chama-se "Terra dos outros felizes". Entre as pessoas que farão a leitura, estará Lucila Fazan, Victor Bittow, Luciana Xavier e eu!!!
Espero vocês!!!

http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?/O_grupo_Perversos_Polimorfos_prepara_noite_cultural/ARTES_E_TEATRO/SAO_PAULO/&a=1&ID=9&cd_news=37662&cd_city=1#

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Vale do Paraíba


Fazia muito tempo que não ia ao interior, e tive as mesmas sensações de sempre. Cheiro de tempero familiar cozinhando em panela de ferro no forno a lenha, gosto de infância, quando corria de calcinha e pés descalços para estourar bexiga com água, que inclusive me rendeu uma cicatriz na testa, devido a um tombo.
Dessa vez, outras crianças brincavam, filhos dos filhos, algumas brincadeiras se repetiam, agora com o "plus" da internet...
A janela lateral, da entrada do casarão, poderia me causar sérios problemas se resolvesse se abrir, e contar quantas vezes a utilizei como porta principal de minhas saídas escondidas para bailinhos e afins. Para cada pedacinho da cidade, devo ter uma história pra contar. No interior, alguns lugares e pessoas não mudam, e isso ao mesmo tempo que me causa horror, me provoca certo alívio, porque quando eu me perder, tenho a impressão que vai ser para lá que vou correr, será meu ponto de partida na busca do que ficou perdido.
Lembranças de infância, nostalgia e a constatação de que com descendentes de italianos, festa sem brigas são quase inexistentes. E que, nesses momentos, eu quase sempre estou em outra dimensão... rs... Em meio a calorosas discussões tem sempre um que solta...
- Ué, cadê a Catarina?
- (Catarina, ao longe) Oi! Alguém me chamou?
- Lá vem ela, toda zen. Você tem certeza que é dessa família mesmo?
E mais uma vez me sinto estrangeira. Mas agora eu gosto desse não pertencer pertencendo, desse olhar de águia. Sou muito mais compreensiva com eles e comigo.
É... família... muita fofoca, bagunça, brigas... e entre uma coisa e outra, alguma sabedoria.

Saudade da minha vó Nina.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Corra Lola Corra

Tudo começa com uma citação...

"Não cessaremos de explorar
E ao fim de nossa exploração
Voltaremos ao ponto de partida
Como se não o tivéssemos conhecido."
T. S. Eliot
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e outra..
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"Depois do jogo é antes do jogo."
S. Herberger
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Fantástico!!! Roteiro genial, instigante, emocionante!!!
Demorei pra assistir, mas talvez o tenha feito no momento certo.
O que um segundo a mais ou a menos pode nos custar?
Por que perdemos tanto tempo?
Será possível correr sem correr?
Mas é preciso mesmo correr?
"Inúmeras perguntas em busca de uma resposta. Uma resposta que levará à outra pergunta, cuja a resposta levará à outra pergunta e assim por diante."
Sempre as escolhas...
Meu mestre Janô diz "A gente não aproveita a vida, e lamenta a morte!"
Estou escolhendo agora, e deixando de escolher também.
Nem todas as minhas escolhas me pertencem(é bem contraditório, é minha e não é ao mesmo tempo), porque existe o outro, mas as escolhas do outro interferem nas minhas.
É. O filme causou um certo curto-circuito em meu sistema.
Preciso pensar mais a respeito, quem quiser comentar, filosofar, criticar, esteja a vontade.

quarta-feira, 16 de abril de 2008


De repente eu erro. De repente me sinto péssima. Sou tão lacunar pra mim...
Mas não sei falar de fatos que eu não entendo, me sinto estrangeira em todo lugar, por mais que eu me procure, eu sempre me perco de mim. Não sei se sei o caminho. Não sei se ele existe. Estou tão cansada... das procuras, das esperas, cansada das expectativas, das perdas. Meu sorriso me fere, as vezes, e só as lágrimas me aliviam. Meu silêncio é meu refúgio, mas ele não é nada complacente. Por que algo bom vem sempre acompanhado de uma dor? Por que preciso tanto ser alimentada continuamente? Será que os camelos são mais felizes? Ontem foi bom, hoje eu já nem lembro. Uso a arte pra esquecer ou pra aprender? As marcas são de giz. Mas se houver teto, a chuva não apaga. E eu perco tempo, e eu ganho tempo, e eu, tempo.
Já.
Não.
Mais.
Tanto.
É.

Fragmento

"Apesar das dificuldades de minha história, apesar dos mal-estares, das dúvidas, dos desesperos, apesar dos ímpetos de abandonar tudo, não paro de afirmar o amor como um valor. Todos os argumentos que os mais diversos sistemas empregam para dismistificar, limitar, esmaecer, em suma, depreciar o amor, escuto-os, mas obstino-me: 'Sei disso, mas mesmo assim...'
(...)
Abandono alegremente tarefas insípidas, escrúpulos razoáveis, condutas reativas, impostos pelo mundo, em prol de uma tarefa inútil, oriunda de um Dever vivo: o Dever amoroso. Faço discretamente coisas loucas; sou a única testemunha de minha loucura. O que o amor desnuda em mim é a energia. "
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(Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso)
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Que eu consiga manter as portas e janelas sempre abertas, pra luz poder entrar... e, quem sabe, essa luz possa ficar.

terça-feira, 15 de abril de 2008


Vygotsky, Erikson, Piaget, Freud, Freire, Imbernón, Wallon, Steiner, Montessori… talvez me deixem maluca até o final da licenciatura... é coisa demais pra uma só cabecinha de vento.
Desculpem, hoje foi só um desabafo...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Das contradições e esbarrões

Hoje foi o típico dia que você acorda e diz "Hummm, tem alguma coisa estranha comigo, melhor acordar e viver cautelosamente esse dia." Tá bom, ninguém acorda e diz exatamente essas palavras, mas a idéia é essa. Foi o que fiz, tive cautela. Ao tomar o café, cuidei para que minhas mãos distraidas não me traissem e todo aquele caldo preto e quente não viesse a entornar o meu dia. Ok, tudo bem até aqui. A manhã seguiu tranquila, nem minha afilhada Elisa regugitou o leite materno em mim, eu estava atenta demais para cair em suas artimanhas infantis, afinal dois meses e meio é tempo suficiente para ela aprender que não se deve vomitar em quem lhe ama e lhe quer bem... rs. No banho resolvi seguir a rotina de sempre, que não vem ao caso comentar. Tudo aparentemente normal. Vou trabalhar.
Estava dirigindo calmamente em uma avenida, rumo ao colégio onde dou aula e de repente, (barulho de colisão), é, pois é... bati na traseira de outro veículo, por pura distração. Isso até poderia ser ruim, e me causar fortes dores de cabeça se não fosse o que ocorreu depois. No outro carro estava Marcelo, calmo, tranquilo, foi simpático e elegante. Eu sei que não deveria me surpreender, era pra ser uma coisa natural, mas não é. É raro encontrarmos pela vida alguém disposto a não ferir, não esbravejar em situações assim. Fiquei feliz, não só porque praticamente nada se sucedeu com meu veículo, mas porque conheci um artista talentoso, ele é cartunista. Me mostrou vários de seus trabalhos e possui um blog que recomendo que visitem http://www.marceloarte.blogspot.com/.

Percebi que o "Hummm, tem alguma coisa estranha comigo, melhor acordar e viver cautelosamente esse dia" era só uma intuição de que eu devia manter os meus olhos bem abertos, para poder esbarrar em pessoas como Marcelo, pois essas pessoas ainda existem, e fico feliz de poder encontrá-las por aí.

domingo, 13 de abril de 2008




Como é boa a sensação de assistir a um ótimo espetáculo...
Um misto de revolta e ternura me invadiu ao assistir esta poética, delicada e intensa peça.
Tão vivo!!! Ao sair do teatro, estava num estado diferente do que cheguei, senti uma calma, tinha a impressão que todos os meus movimentos estavam saindo em câmera lenta. Reverberação. Ou necessidade de reverberar o espetáculo. Não era possível sair dali e ser banal, fazer social com a "classe" teatral que ali se encontrava, foi preciso silenciar, pelo menos por alguns instantes, para possibilitar o acesso a camadas mais subterrâneas de mim, do outro, do mundo... trocando em miudos, para refletir um cadinho.
O espetáculo Ícaro já foi apresentado mais de 700 vezes em países de todo o mundo, a direção e interpretação é de Daniele Finzi Pasca, fundador do Teatro Sunil, da Suiça, no ano de 1983. Este espetáculo foi escrito por Daniele em um breve período de prisão em que ele passou na Suiça, por não servir o exército, a peça testemunha a luta contra o poder, a doença, o cheiro da morte. A história retrata o primeiro encontro entre um paciente recém chegado em um hospital psiquiátrico e seu companheiro que já está lá a três anos. Para vencerem a solidão e a insônia, partem para um viagem imaginária, se revoltando contra o destino que os prendem entre os lençóis da cama do hospital.
Infelizmente, o espetáculo veio ao Brasil para somente três apresentações, sendo o último dia hoje, as 18hs. Caso o espetáculo volte, ou caso você viaje pelo mundo onde este espetáculo estiver em cartaz, recomendo que o inclua em sua programação. É realmente imperdível. Àqueles que por aqui passarem e que tenham assistido, peço que comentem suas sensações, impressões, reverberações...
PS: E terminar a noite na companhia de Clarice, e de outras boas companhias, foi realmente especial.
Visitem o Blog http://gregorsamsara.blogspot.com/2008/04/caro-parte-2.html, é o Blog do René, seu olhar sobre o espetáculo é digno de se espiar e se inspirar...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O cofre

Há algum tempo estava passando de carro por uma avenida e me deparei com um vendedor de cofres, aquilo ficou em minha cabeça durante dias. Fiquei pensando nos argumentos que um vendedor de cofres usaria pra me convencer de que aquilo realmente seria útil pra minha vida. Resolvi escrever, uma pequena cena. Vamos a ela!


(palco sem nenhum objeto cênico, muito iluminado, excessivamente iluminado)

(Ela solta um urro bem forte e então começa a falar como se aquele urro não tivesse existido) Olá!!! Oi!!!! Alguém pode apagar essa luz pra eu poder enxergar? (Para o público) Não sei. Não faço idéia onde, o que, e muito menos quanto tempo faz que estou aqui. Será que... o cofre!!!

– Me lembro de estar em casa num domingo pensando “Preciso descobrir o prazer de descascar” Sim, porque naquela manhã eu estava comendo lechia e sentia muito prazer na hora de degustar, mas descascar era meio chato. Tive a idéia de descascar todas e depois ter muitos prazeres consecutivos. Não o fiz. Pensei, é natural assim. Menos prazer, mais prazer, menos prazer, mais prazer... e era domingo também, pra que pensar nisso? Então a campainha tocou, fui atender. Era um vendedor, de cofres, é, achei aquilo bem esquisito, e por curiosidade resolvi convidá-lo a entrar. Ele começou a falar longamente sobre a importância de um cofre na vida das pessoas, e era tão passional o seu discurso que quase me comoveu, agradeci e disse que não estava interessada (o que era mentira), ele deixou seu cartão e foi embora. Aquilo virou uma obsessão gradativa, comecei pensando em que um cofre me poderia ser útil, o que eu guardaria nele, tentei conversar com o Luis sobre isso mas ele estava ocupado demais com seus projetos medíocres e inúteis, aos poucos fui perdendo o sono, ou quando dormia sonhava com ele, fui adquirindo uma necessidade de possuir um cofre, o cofre, uma necessidade vital, peguei o cartão do vendedor e liguei.

– Meu cofre!!!!! Eu agora tinha o cofre!!! Estava me sentindo tão feliz, um pouco vazia, mas feliz, acho. Três dias fiquei contemplando a beleza daquele cofre. Era bom abraçá-lo e sentir o geladinho dele, ele era sempre gelado, sempre duro, sempre pesado e sempre preto. Ah!! E ele nunca saia do lugar, era tão firme!!!! No quarto dia tomei coragem de abri-lo (talvez eu não devesse tê-lo feito), peguei o segredo, girei, girei, girei e... quando abri a porta do cofre tudo escureceu, não sei quanto tempo fiquei naquele escuro, pelo menos o suficiente pra que eu começasse a criar intimidade com o breu, estava até gostando, quando essa maldita luz apareceu, não vejo meu sofá, meu tapete, e... as minhas janelas! Quem roubou as minhas janelas? Não vejo nada!!!! Levaram tudo, tudo, portas, janelas, a casa... Onde é que estou??? Não, não, isso não... (ri) Tudo bem, agora podem parar, se é algum tipo de brincadeira, acho que a graça já acabou. (riso nervoso)

(Ela solta um urro bem forte e então começa a falar como se aquele urro não tivesse existido) Olá!!! Oi!!!! Alguém pode apagar essa luz pra eu poder enxergar? (Para o público) Não sei. Não faço idéia onde, o que, e muito menos quanto tempo faz que estou aqui. Será que... o cofre!!!

Microconto

Meu primeiro e único microconto.

Um sussurro. Um arrepio. Hímen rompido. Nove meses depois...

Para ler muitos microcontos acessem, http://pt-br.wordpress.com/tag/microconto/, http://terceirosmicrocontos.blogspot.com/ e http://www.marcelospalding.com/veredas/.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Pensando sobre a educação

Parte do que escrevi aqui, foi de um cometário que fiz no blog do meu professor de Tecnologia, professor Jarbas, que já admiro desde o primeiro encontro, por sua maneira inusitada e eficiente de ensinar, seu blog é o Boteco escola, http://jarbas.wordpress.com/, já está entre aqueles que recomendo a visita, e reafirmo que é um espaço imperdível de conhecimento e troca. Foi com certeza umas das minhas inspirações para criar este blog.


Por que temos sempre que achar culpados pra nossa falta de interesse frente às adversidades em todos os campos de nossa vida?
Vivemos um caos no sistema educacional, uns presos a métodos tradicionais, outros completamente alheios à existência deles, principalmente em minha área de atuação. Acredito no ensino com uma aprendizagem significativa, professores muito preparados, mas abertos ao que o aluno tem a lhe oferecer, seu papel é o de mediador de conhecimento, professores criativos e curiosos, não é possível ignorar o aluno quando se está ensinando, e muito menos ficar preso a um único método de ensino, pois muitas vezes determinado aluno não se adapta a ele, temos que desafiar o aluno, tornar necessário o aprendizado pra ele, instigá-lo.
Não adianta lamentar a quantidade de informações que nos chegam, ou o governo que não paga bem ao professor, ou o aluno que não gosta de estudar, é preciso que nos ocupemos da vontade de estar cada dia mais preparados para exercer o nosso ofício com excelência, para nos expor frente àquilo que não conhecemos, com curiosidade e uma dose extra de imaginação.
Ainda estou no começo do curso de licenciatura, e não sei se minha visão irá mudar, mas por enquanto o que posso afirmar é que, acima de qualquer método, conceito ou notório saber está o afeto, e só sei ensinar se for por esta via.

Por onde começar? Por que começar?

Acho a tarefa de iniciar algo tão difícil. Por que eu faria um blog? Pensei muito antes de me aventurar por estas veredas. Não queria que fosse algo egocêntrico, que só falasse de mim, algo isolado do mundo e dos acontecimentos. Por outro lado, só posso falar do que conheço, do que sinto, e, nesse sentido estou falando de mim, sim. Confesso que a palavra escrita nunca foi meu "forte", sou caótica pra escrever, as idéias me vêem em fluxo e tenho dificuldade de as reter e organizar. Mas talvez seja essa a minha maneira de olhar o mundo, e será dessa forma que irei expor minhas idéias, pensamentos, sensações sobre a arte, a educação, as pessoas e o que mais eu achar interessante compartilhar com, desde aqueles que vierem fazer somente uma visita até aqueles que serão parceiros neste meu olhar/estar no mundo. Desejo que este seja um espaço de troca, procuro com isso me "desalienar" cada vez mais, chega de disfarçar minha arrogância com uma aparente timidez, a hora é de expor minha opinião, sem medo de ser contestada. Para isso, conto com ajuda de todos que por aqui passarem. E vamos blogar!!!